quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Deputado paraibano lança Nota de Repúdio contra declaração da atriz Alexia Dechamps


É com imensa tristeza que manifesto o meu mais veemente repúdio ao ato de intolerância e de preconceito contra os nordestinos, principalmente os beneficiários do programa social do governo federal, o “Bolsa Família”, perpetrado pela atriz Alexia Dechamps, na tarde de ontem, 25 de outubro de 2016, na Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a audiência pública que discutia a proposta de regulamentação das vaquejadas no Brasil.

Intolerância e preconceito contra os Nordestinos, em pleno século XXI, é inaceitável e deve ser firmemente combatido em nosso país.


É inadmissível que a atriz, nascida em Buenos Aires, descendente de russos, belgas e alemães, que veio para o Brasil ainda pequena, assumindo posteriormente também a nacionalidade brasileira, tenha tido essa postura em relação ao nosso sofrido povo nordestino.

Pelo que parece a senhora Alexia não tem conhecimento da história do nosso país e da importância do povo nordestino para o engrandecimento de nossa nação.

Senhora Alexia talvez não saiba, mas a cidade de São Paulo só é hoje a metrópole que é graças aos milhares de paraibanos, maranhenses, piauienses, cearenses, alagoanos, sergipanos, baianos, potiguares e pernambucanos, que tiveram que sair da sua região, por conta  de uma agricultura atrasada e pouco diversificada, grandes latifundiários, concentração de renda e uma indústria pouco diversificada e de baixa produtividade, além das fortes secas que sempre assolaram o sertão nordestino; para se sujeitarem a trabalhar em subempregos no Sul e Sudeste, muitas vezes em condições análogas à escravidão.

A atriz ao declarar ao público presente, principalmente aos vaqueiros e a todo o setor produtivo, envolvido nessa manifestação cultural, em alto e bom som: "Calem a boca, que eu já pago Bolsa Família para o Nordeste", cometeu uma das maiores ofensas ao nosso povo, uma vez que esse importante programa social, do governo federal, não se trata de esmola, mas uma reparação social aos séculos e séculos de exploração econômica e de falta de investimentos na região. Principalmente na República Velha, onde se praticava a política do café com leite.

É notório que apenas nas duas últimas décadas o governo federal tem levado, com mais ênfase, investimentos para a região e buscado por meio de programas sociais, como Bolsa Família, Luz para Todos e outros, diminuir as diferenças regionais.

O Bolsa família em 2016, até o mês de outubro, transferiu R$ 10.940.619.246,00 para todos os beneficiários do programa nos estados nordestinos, mas transferiu também R$ 6.154.290.833,00, para as regiões Sul e Sudeste; R$ 2.947.518.581,00 para a região Norte; e R$ 976.966.279,00 para a região Centro-Oeste. Sendo os estados de São Paulo (R$ 1.965.248.243,00), Minas Gerais (R$ 1.538.212.420,00) e Rio de Janeiro (R$ 1.167.953.890,00), segundo, sexto e oitavo estado, respectivamente, em transferência de recursos.

O Nordeste tem a segunda maior população, o terceiro maior território, o segundo maior colégio eleitoral, o menor IDH e o terceiro maior PIB entre as regiões.

A literatura nordestina tem dado grandes contribuições para o cenário literário brasileiro, onde aqui destaco nomes como Jorge Amado, Nelson Rodrigues, José de Alencar, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Gregório de Matos, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Manuel Bandeira, Joaquim Nabuco, Tobias Barreto, Arthur Azevedo, Castro Alves, Coelho Neto, Álvaro Lins, Jorge de Lima, Ariano Suassuna, Viriato Correia, Ferreira Gullar, José Lins do Rego, João Ubaldo Ribeiro, Dias Gomes, Raimundo Correia, Josué Montello, Gilberto Freyre (autor do livro Casa-Grande & Senzala). Além da conhecida e apreciada Literatura Cordel e numerosas manifestações artísticas de cunho popular como os cantadores de repentes e de embolada.

O Frevo, típico de Pernambuco, é um dos gêneros mais influentes do país, e revelou grandes músicos da MPB.

Na música erudita, destacaram-se como compositores Alberto Nepomuceno e Paurillo Barroso, Liduíno Pitombeira, e Eleazar de Carvalho como maestro, entre outros

Na música popular, destacam-se ritmos tais como coco, xaxado, martelo agalopado, samba de roda, baião, xote, forró, axé e frevo, dentre outros ritmos. O movimento armorial do Recife, inspirado por Ariano Suassuna, fez um trabalho erudito de valorização desta herança rítmica popular nordestina. Um de seus expoentes mais conhecidos são os cantores, Luiz Gonzaga, Sivuca, Antônio Nóbrega, João do Vale, Alcione, Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Zeca Baleiro, Daniela Mercury, Cláudia Leite, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Luís Caldas, Reginaldo Rossi, Zé Américo de Almeida, Bartô Galeno, Chico César, Elba Ramalho, Genival Lacerda, Geraldo Vandré, Herbert Vianna, Jackson do Pandeiro, Roberta Miranda, Zé Ramalho, Fubá, Luan Estilizado, Amazan, Capilé, Biliu de Campina, Marinês, e outros mais.

Na dança, destacam-se o maracatu, o bumba-meu-boi, o xaxado, diversas variantes do forró, os tambores de crioula e taboca, o cacuriá, as quadrilhas e outras danças folclóricas.

O artesanato é também uma parte relevante da produção cultural do Nordeste, sendo inclusive o sustento de milhares de pessoas por toda a região. Onde destaco aqui os produtos feitos em argila, madeira e couro, além das rendas, as garrafas com imagens. Assim como, as peças feitas das fibras do buriti e do babaçu.

A nossa culinária é maravilhosa onde destaco o baião-de-dois, a carne-de-sol, o queijo de coalho, o vatapá, o acarajé, a panelada, a buchada, a canjica, o feijão e arroz de coco, o feijão verde e o sururu, o arroz de cuxá, assim como vários doces feitos de mamão, abóbora, laranja, etc. Algumas frutas regionais são a seriguela, o cajá, o buriti, a cajarana, o umbu, a macaúba, juçara, bacuri, cupuaçu, buriti, murici e a pitomba, além de outras.

Por tudo isso só me resta pedir em nome de todo o povo nordestino, não apenas a atriz Alexia Dechamps, mas a todos aqueles que buscam denegrir e menosprezar o povo nordestino e a nossa região respeito. Não somos miseráveis, somos um povo alegre, trabalhador e hospitaleiro, que a pouquíssimo tempo estamos caminhando rumo ao desenvolvimento. Ao mesmo tempo que somos ricos em recursos e belezas naturais, na cultura e no turismo.

Para o fortalecimento de nossa unidade federativa, ao contrário do que vem sendo pregado por alguns que tem apresentado esse comportamento preconceituoso e descriminatório, precisamos conhecer mais, respeitar e amar o Nordeste, sua gente e suas manifestações culturais! Somos um só povo, formando uma só nação.

André Amaral
Deputado Federal

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários não representam a opinião deste blog. Os comentários anônimos não serão liberados. Envie sugestões e informações para: henriquemachadoma@gmail.com